domingo, 27 de setembro de 2009

Bondade

Eu sou a voz que você ouvia quando criança
O seu amigo invisível, o monstro debaixo da cama
Seu anjo da guarda, a voz em sua cabeça sussurrando
Aquele que está com você no escuro
Que conhece o seu passado e sabe que você não tem futuro
O primeiro e o último a te mostrar e tirar o mundo
Que balançou seu berço e cava o seu túmulo
Seu melhor amigo, seu inimigo que você deseja mais
Você conhece os meus sete filhos, vocês costumavam brincar juntos
Quem te inspira os sonhos mais absurdos
E orquestra os piores pesadelos
Que te salva do abismo
Que arranca as suas asas
E o único a te pegar quando você cai
Em quem você deu o seu primeiro beijo
Quem te ofereceu o prazer mais doce
E te faz sofrer a dor mais angustiante
Sim, eu sou o primeiro amante
Aquele que você quer esquecer e sente mais saudade
Justo quem você julgava tão mal te mostrou mais bondade

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A nossa trilha


Você que é forte e tem as rédeas da sua vida em mãos, cheia de cicatrizes, que foi se marcando com o tempo e alimentou medos agora comigo se desfaz dessa pele de lobo e volta a ser cordeiro. Pois é dobrando-se à minha vontade, subjugada e deposta do domínio sobre si própria, posse, não mais senhora, assim é que te torno livre. Porque te protejo e te castigo, faço-te mulher e torno mesmo o seu lado masculino sodomita, quero você minha, não mais sua. Pois é com a sensibilidade de Safo com que te exploro e sadicamente te torturo, para ser o seu deus que molda com as mãos sua Eva e deita-se com ela. Quero despir seu corpo e alma, para te fazer voltar a ser animal em cio, selvagemente adestrada para dar prazer, com a servidão e fidelidade de uma cadela. Vou te aliciar com palavras sujas e te humilhando me banho junto no lodo para mostrar que não importa como, nós somos o que somos e somos dessa maneira imperfeita, perfeitos um para o outro.
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E assim como serei o mais cruel, estupro consentido, porém sempre violento, serei o mais carinhoso dos seus amantes. Te dizendo as palavras que seus ouvidos sempre mereceram, mas que você procurou em outras bocas. O carrasco e o libertador, divino e profano, todos os papéis havemos de representar no palco dos lençóis porque em nós há uma legião de personagens que querem vida. No entanto só com você os meus demônios querem contracenar. E no inferno da carne o paraíso da alma reside, pleno por segundos eternos. E reduzidos na exposição dos sentidos excitados e abatidos, dos corpos, das almas que os governam, da razão que a própria razão desconhece, do mistério de amar, nos encontramos. Não existindo mais para onde ir quando se alcança o infinito, retornar a essa sensação redescobrindo os signos de cada tempo da nossa história será como se fosse a primeira e a última vez. Seremos felizes como somos agora e como fomos desde o começo e ainda assim, seremos muito mais felizes do que a língua dos anjos pode profetizar.
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Porque não há mapas a se seguir, mestres a consultar, só a nós cabe o direito e o insulto de ousar, e nós, humildemente o fazemos da melhor maneira possível. Toda a punição advinda dessa trilha será bem-vinda, porque o gozo é incomparavél, inesquecível.