domingo, 1 de setembro de 2019

"Canção do Exílio Itarareense" ou "Onde as Andorinhas Sempre Voltam"


Minha terra tem pedras
Que a água fura em fúria
A natureza opressora
Nos mostra a nossa pequenez absurda

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Minha terra tem araucárias
E no entardecer dançam no céu andorinhas
Os pinhos aqui quase se dobram
Ao encarar a ventania

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Minha terra tem rios
E córregos que correm com esgoto a céu aberto
Sua cor muda de tempos em tempos
E o cheiro é sempre fétido

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Minha terra tem campos verdes
E o céu noturno é rosa quando chove
O frio do inverno
Vem do Minuano que aqui morre

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Minha terra se diz: "a capital regional do comércio"
Mas sem oportunidades nem emprego 
Fica difícil saber
Se somos só hipócritas ou apenas néscios

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Minha terra é fértil e próspera
E carrega consigo uma rica história
Nos paralelepípedos à Sorocabana
Lições que não se aprendem na escola

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Minha terra tem gente pobre com esperança
Que trabalha e sobrevive e dança
Dá-se um jeito para tudo
Menos na ignorância

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Minha terra tem lugar para todos
Mas há quem não goste de conviver com o povo
Bairristas e coronelistas
Nós não gostamos de quem somos

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Não permita que Deus decida
Quando e se você fica ou volta
Estamos longe demais das capitais, somos tão banais

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Bonitinhos e ordinários
Mas só aqui as andorinhas
Se jogam suicidas

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Para adentrar a gruta na hora vespertina
Se você aprender a cantar a sua aldeia
Não há exílio que te reprima