terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Píton
Sou serpente e mastigo entre os dentes
bocas, línguas e clitóris
Sou víbora e despejo veneno sobre coxas e seios
Respiro gemidos alheios
Me aqueço roubando o calor de outros corpos
Me escondo dentro das mulheres
Mordendo-lhes o pescoço
Até sangrar
Sugando a vida e o prazer
E em um abraço constritor
quebro-lhes o corpo
fazendo suas almas
gozarem
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Primavera
O vento devagar lambe a pedra
e a molda, invisível, transformando
o bruto em belo
E assim, sem pressa, brinca com a água salgada
e cria ondas que podem engolir praias
e destruir castelos
Mais além, faz carinho no jardim
e pétala por pétala, à flor da pele
causa arrepio, causa medo, calafrio
depois murmura e cala, e por fim
quando parece que não vai acontecer mais nada
aprendemos que simplesmente
nascera um jardim em outro lugar
Quem sabe no deserto de pedras lambidas pelo ar
Ou em uma ilha que há de afundar no mar
O importante é saber fazer tudo florir
E aprender a amar
sábado, 18 de dezembro de 2010
No harm done, No harm taken
Às vezes é mais fácil arranjar um pretexto
Mesmo que assim, sem jeito, sem nexo
Tem coisas que só se acalmam
com sexo
.
E a chuva nos molha de um jeito ou de outro
Sabemos que é uma busca por ouro de tolo
No entanto, não conseguimos deixar
de mergulhar no mar revolto
.
E assim é, E agora José?
hei de brindar o que vier
sem jamais me arrepender do passado
que estará para sempre enterrado
em cova rasa
.
e se o vento te balançar os cachos
saiba quem é que há de estar ao teu lado
só há uma ninfa, só há um sátiro
domingo, 12 de dezembro de 2010
Ao Gigante Adamastor
Não luto contra o tempo
Prefiro o momento
Não uso de argumento
Pra justificar a felicidade
Eu a crio, a busco, a presenteio
Não comparo, não invado
Não insulto, não desfaço
Não uso as ruínas alheias para elevar meus sentimentos
E a cada castelo de areia erigido, mesmo que efêmero
É para sempre meu, inclassificável, portento
E se o mar vence meus sonhos e minhas esperanças
com tempestades de ignorância
vou naufragar em outras praias
sem esquecer dos momentos vividos
com Vênus
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Lupino
Fiz da minha caça, troféu e templo
E de senhor passei a servo
Guardei as armas e marquei território
Mas uma vez que a besta nos mostra os dentes
Não há como ser diferente
Parti, queimando tudo que ficara para trás
E ao me condenar a liberdade
Longe de quem nunca quis me afastar, mas que sempre esteve
prestes a ser retalhada pela alcatéia alvoroçada
Acabei por vê-la finalmente
Sendo despedaçada por velhos coiotes
E tal visão fez o lobo em mim
Ganhar uma nova chance
Não me sinto feliz, nem bem
Mas vivo, pronto para a caçada
E a idéia me saliva a boca
Mesmo que talvez o coração não sinta mais nada
E de senhor passei a servo
Guardei as armas e marquei território
Mas uma vez que a besta nos mostra os dentes
Não há como ser diferente
Parti, queimando tudo que ficara para trás
E ao me condenar a liberdade
Longe de quem nunca quis me afastar, mas que sempre esteve
prestes a ser retalhada pela alcatéia alvoroçada
Acabei por vê-la finalmente
Sendo despedaçada por velhos coiotes
E tal visão fez o lobo em mim
Ganhar uma nova chance
Não me sinto feliz, nem bem
Mas vivo, pronto para a caçada
E a idéia me saliva a boca
Mesmo que talvez o coração não sinta mais nada
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Trecho de PULP, último livro de Bukowski
SOLITÁRIO? DEPRIMIDO? ALEGRE-SE. LIGUE PARA AS NOSSAS LINDAS GAROTAS. ELAS QUEREM FALAR COM VOCÊ. PAGUE COM O SEU CARTÃO DE CRÉDITO MASTER OU VISA. FALE COM KITTY, FRANCI OU BIANCA. TELEFONE 800-435-8745
Apareciam as meninas. Kitty era a melhor. Tomei um gole de uísque e disquei o número.
_ Sim? - era uma voz de homem. Parecia mau.
_ Kitty, por favor.
_ Você é maior de 21 anos?
_ Maior - eu disse.
_ Master ou Visa?
_ Visa.
_ Me dá teu número e data de validade. Também endereço, número de telefone, identidade e carteira de motorista.
_ Ei, como vou saber que você não vai usar essa informação pra você mesmo? Quer dizer, me fodendo. Usando a informação pra seu próprio lucro?
_ Ei, meu camarada, quer falar com Kitty?
_ Acho que sim.
_ A gente anuncia na televisão. Estamos neste negócio há dois anos.
_ Está bem, deixa eu pegar os cartões na carteira.
_ Camarada, se você não quer a gente, a gente não quer você.
_ Sobre o que a Kitty vai falar comigo?
_ Você vai gostar.
_ Como sabe que eu vou gostar?
_ Ei, camarada...
_ Está bem, está bem, espere um momento...
Dei a ele a informação. Houve uma pausa longa, enquanto conferiam o meu crédito. Aí ouvi uma voz.
_ Fala, gostoso, aqui é Kitty.
_ Alô, Kitty, meu nome é Nick.
_ Oooh, sua voz é tão sexy! Já estou ficando tesudona!
_ Não, minha voz não é sexy.
_ Oh, você é tão modesto.
_ Não, Kitty, não sou modesto...
_ Sabe de uma coisa? Eu me sinto tão perto de você! Parece que estou enroscada, sentada no seu colo, olhando nos seus olhos. Tenho ollhos grandes e azuis. Você está bem perto, querendo me beijar.
_ Isso é bobagem, Kitty. Estou aqui escutando a chuva cair e mamando meu uísque escocês.
_ Ouça, Nick, precisa usar um pouco a imaginação. Vamos tentar e você vai ficar surpreso com o que pode conseguir. Não gosta da minha voz? Não acha ela um pouco... ah, sexy?
_ É um pouco, mas não bastante. Parece resfriada. Está resfriada?
_ Nick, Nick, meu garoto. Eu sou quente demais pra ficar resfriada!
_ Como?
_ Eu disse que sou quente demais pra ficar resfriada!
_ Bem, parece resfriada. Talvez fume demais.
_ Eu só fumo uma coisa, Nick!
_ O que, Kitty?
_ Você não imagina?
_ Não...
_ Olhe pra você mesmo, Nick.
_ Tudo bem.
_ Que está vendo?
_ Bebida. O telefone.
_ Que mais, Nick?
_ Meus sapatos...
_ Nick, que coisa grande é essa se projetando de você enquanto fala comigo?
_ Ah, isso? É minha barriga!
_ Continue falando comigo, Nick. Continue ouvindo minha voz, pense em mim no seu colo, o vestido levantando, mostrando meus joelhos e minhas coxas. Eu tenho cabelos louros, compridos. Pense nisso tudo, Nick, pense em...
_ Tudo bem...
_ Tudo bem, que está vendo?
_ A mesma coisa: telefone, meus sapatos, minha bebida, minha barriga...
_ Nick, você é mau! Me dá vontade de ir aí e lhe dar uma surra. Ou talvez deixe você me dar uma surra!
_ Quê?
_ Me bate, me bate, Nick!
_ Kitty...
_ Sim?
_ Me desculpa um momento? Preciso ir ao banheiro.
_ Oh, Nick, sei o que vai fazer! Mas não precisa ir ao banheiro pra fazer isso, pode fazer no telefone, enquanto fala comigo!
_ Não dá, Kitty. Preciso mijar.
_ Nick - ela disse -, pode considerar nossa conversa terminada!
Desligou.
_ Acho que sim.
_ A gente anuncia na televisão. Estamos neste negócio há dois anos.
_ Está bem, deixa eu pegar os cartões na carteira.
_ Camarada, se você não quer a gente, a gente não quer você.
_ Sobre o que a Kitty vai falar comigo?
_ Você vai gostar.
_ Como sabe que eu vou gostar?
_ Ei, camarada...
_ Está bem, está bem, espere um momento...
Dei a ele a informação. Houve uma pausa longa, enquanto conferiam o meu crédito. Aí ouvi uma voz.
_ Fala, gostoso, aqui é Kitty.
_ Alô, Kitty, meu nome é Nick.
_ Oooh, sua voz é tão sexy! Já estou ficando tesudona!
_ Não, minha voz não é sexy.
_ Oh, você é tão modesto.
_ Não, Kitty, não sou modesto...
_ Sabe de uma coisa? Eu me sinto tão perto de você! Parece que estou enroscada, sentada no seu colo, olhando nos seus olhos. Tenho ollhos grandes e azuis. Você está bem perto, querendo me beijar.
_ Isso é bobagem, Kitty. Estou aqui escutando a chuva cair e mamando meu uísque escocês.
_ Ouça, Nick, precisa usar um pouco a imaginação. Vamos tentar e você vai ficar surpreso com o que pode conseguir. Não gosta da minha voz? Não acha ela um pouco... ah, sexy?
_ É um pouco, mas não bastante. Parece resfriada. Está resfriada?
_ Nick, Nick, meu garoto. Eu sou quente demais pra ficar resfriada!
_ Como?
_ Eu disse que sou quente demais pra ficar resfriada!
_ Bem, parece resfriada. Talvez fume demais.
_ Eu só fumo uma coisa, Nick!
_ O que, Kitty?
_ Você não imagina?
_ Não...
_ Olhe pra você mesmo, Nick.
_ Tudo bem.
_ Que está vendo?
_ Bebida. O telefone.
_ Que mais, Nick?
_ Meus sapatos...
_ Nick, que coisa grande é essa se projetando de você enquanto fala comigo?
_ Ah, isso? É minha barriga!
_ Continue falando comigo, Nick. Continue ouvindo minha voz, pense em mim no seu colo, o vestido levantando, mostrando meus joelhos e minhas coxas. Eu tenho cabelos louros, compridos. Pense nisso tudo, Nick, pense em...
_ Tudo bem...
_ Tudo bem, que está vendo?
_ A mesma coisa: telefone, meus sapatos, minha bebida, minha barriga...
_ Nick, você é mau! Me dá vontade de ir aí e lhe dar uma surra. Ou talvez deixe você me dar uma surra!
_ Quê?
_ Me bate, me bate, Nick!
_ Kitty...
_ Sim?
_ Me desculpa um momento? Preciso ir ao banheiro.
_ Oh, Nick, sei o que vai fazer! Mas não precisa ir ao banheiro pra fazer isso, pode fazer no telefone, enquanto fala comigo!
_ Não dá, Kitty. Preciso mijar.
_ Nick - ela disse -, pode considerar nossa conversa terminada!
Desligou.
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