Eu escrevo por ímpeto, por impulso
Como quem se entrega ao submundo
E com a loucura em meu útero
Eu semeio e fecundo
Eu escrevo por empáfia, por insulto
Como quem ama o imundo
E com a sujeira e húmus
Eu tinjo as palavras, impuro
Eu escrevo por amor, por Saturno
Como quem desafia o tempo e o turno
E com a alma eternizada de nada
Abro a urna sem fundo
Eu escrevo por escrever, sem rumo
Como quem perde o prumo
E com as mãos vazias e trêmulas
Sorve o último sumo
Eu escrevo por tesão, derrubo muros
Como quem erige em acúmulo
E com os dedos cava a alma
Até enterrar-se em seu túmulo
Eu escrevo porque quero, com um murro
Na boca de quem é idiota, burro
E com o sangue derramado
Deixo de me sentir tão puto
E por isso acabo aqui, não me curvo
O show não pode continuar no escuro
Encaro a vida, o grande absurdo
Para não ceder ao luto, eu luto