Eu, em minha humilde ignorância, conhecia apenas o quadro "O Nascimento de Vênus", de Boticelli, que é uma de suas obras mais famosas. No entanto, ontem, enquanto fazia umas dez coisas ao mesmo tempo (quando é preciso os homens também são capazes dessa proeza, mulheres, acreditem) eu vi um programa na TV falando sobre uma outra pintura dele, "A Primavera". Além da história do artista, nesse programa eles começaram a desvendar os grandes mistérios desse quadro, que ao primeiro olhar, são difíceis de identificar.
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Essa pintura foi uma encomenda de um presente de casamento na qual Boticelli ousou primeiramente pelo tema, dos deuses mitológicos, que não condiziam com a leva cristã da época de quadros representando Marias e crucificações. Além disso, cada figura demonstra uma profundidade perturbadora. Da esquerda para a direita, nós temos Mercúrio, o deus-mensageiro, em uma representação romanceada em seu rosto de um dos grandes patronos das artes. No entanto, reparem que ele está de costas para as demais figuras femininas, procurando um fruto, uma analogia mais moderna que os pré-rafaelitas deram ao homossexualismo. Um simbolismo que chegou a inspirar Oscar Wilde.
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As três figuras seguintes, seminuas, sensuais, escandalosas ainda para os dias de hoje, são as três graças, as Cárites. Em seus vestidos esvoaçantes elas provocam com a sua felicidade e erotismo, insultando os olhos dos que repousam nos quadros. Quando a classe-média européia se deixou vencer pelo modismo e abraçou Boticelli como seu produto de consumo, aqueles que escolhiam A Primavera para decorar suas salas sabiam que quando algum vizinho os visitasse, se ruborizaria ao ver as três Cárites saficamente desenvoltas em sua dança. Uma delas, inclusive, olhando atenta e interessada para a figura de Mercúrio.
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Ao centro, temos Vênus, a deusa do amor, em uma representação mais enquadrada na Maria cristã, dando uma espécie de benção para os quatro personagens da ala esquerda. Acima, temos o Cupido, deus responsável pelo arrebatamento da paixão. Cupido está vendado, cego e justo como a nossa atual justiça, pronto para disparar uma flecha flamejante.
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Contudo, dentre todas, as figuras que mais chamam a atenção são as três figuras da ala direita. Na extrema direita temos Zéfiro, o vento do Oeste, que segundo os mitos, insanamente louco de paixão persegue e estupra Clóris, uma ninfa da floresta, a personagem ao seu lado, com flores e ramos saindo da boca. A outra mulher ao seu lado é Flora, a deusa das flores, a mulher que Clóris se torna após ser violentada por Zéfiro. Um presente nada adequado para um casamento.
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Continuando, os mitos dizem que Zéfiro, arrependido pelo que havia feito, acaba por desposar Clóris fazendo dela, agora Flora, sua esposa. O rosto enigmático de Flora, feliz e insolente, encarando de volta os que vislumbram o quadro mostra uma combinação das personalidades de Clóris e Flora, da menina e da mulher e a do próprio Zéfiro, em uma representação andrógina, belamente bizarra, misteriosa e orgulhosa. Casta como o pensamento cristão exigia da mulher e lasciva como a filosofia pagã.
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Um recado para a jovem esposa de um casamento arranjado, para que pudesse entender os desejos do marido e aprendesse a lidar com eles. Já que Flora jamais teve do que reclamar do seu matrimônio.
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Assim, cheio de significados, numerosos como as flores e as espécies pintadas delicadamente uma a uma do jardim onde sem resposta tantos deuses se encontraram na mente do pintor, Boticelli ficou por séculos desconhecido e fadado ao ostracismo até ser redescoberto pelos pré-rafaelitas.
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Essa pintura foi uma encomenda de um presente de casamento na qual Boticelli ousou primeiramente pelo tema, dos deuses mitológicos, que não condiziam com a leva cristã da época de quadros representando Marias e crucificações. Além disso, cada figura demonstra uma profundidade perturbadora. Da esquerda para a direita, nós temos Mercúrio, o deus-mensageiro, em uma representação romanceada em seu rosto de um dos grandes patronos das artes. No entanto, reparem que ele está de costas para as demais figuras femininas, procurando um fruto, uma analogia mais moderna que os pré-rafaelitas deram ao homossexualismo. Um simbolismo que chegou a inspirar Oscar Wilde.
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As três figuras seguintes, seminuas, sensuais, escandalosas ainda para os dias de hoje, são as três graças, as Cárites. Em seus vestidos esvoaçantes elas provocam com a sua felicidade e erotismo, insultando os olhos dos que repousam nos quadros. Quando a classe-média européia se deixou vencer pelo modismo e abraçou Boticelli como seu produto de consumo, aqueles que escolhiam A Primavera para decorar suas salas sabiam que quando algum vizinho os visitasse, se ruborizaria ao ver as três Cárites saficamente desenvoltas em sua dança. Uma delas, inclusive, olhando atenta e interessada para a figura de Mercúrio.
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Ao centro, temos Vênus, a deusa do amor, em uma representação mais enquadrada na Maria cristã, dando uma espécie de benção para os quatro personagens da ala esquerda. Acima, temos o Cupido, deus responsável pelo arrebatamento da paixão. Cupido está vendado, cego e justo como a nossa atual justiça, pronto para disparar uma flecha flamejante.
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Contudo, dentre todas, as figuras que mais chamam a atenção são as três figuras da ala direita. Na extrema direita temos Zéfiro, o vento do Oeste, que segundo os mitos, insanamente louco de paixão persegue e estupra Clóris, uma ninfa da floresta, a personagem ao seu lado, com flores e ramos saindo da boca. A outra mulher ao seu lado é Flora, a deusa das flores, a mulher que Clóris se torna após ser violentada por Zéfiro. Um presente nada adequado para um casamento.
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Continuando, os mitos dizem que Zéfiro, arrependido pelo que havia feito, acaba por desposar Clóris fazendo dela, agora Flora, sua esposa. O rosto enigmático de Flora, feliz e insolente, encarando de volta os que vislumbram o quadro mostra uma combinação das personalidades de Clóris e Flora, da menina e da mulher e a do próprio Zéfiro, em uma representação andrógina, belamente bizarra, misteriosa e orgulhosa. Casta como o pensamento cristão exigia da mulher e lasciva como a filosofia pagã.
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Um recado para a jovem esposa de um casamento arranjado, para que pudesse entender os desejos do marido e aprendesse a lidar com eles. Já que Flora jamais teve do que reclamar do seu matrimônio.
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Assim, cheio de significados, numerosos como as flores e as espécies pintadas delicadamente uma a uma do jardim onde sem resposta tantos deuses se encontraram na mente do pintor, Boticelli ficou por séculos desconhecido e fadado ao ostracismo até ser redescoberto pelos pré-rafaelitas.
3 comentários:
Romantizando, ficaria assim:
Caminho pela relva e me sinto acariciada por ele, o vento. Ele me olha, lambe, cerca, galanteia. Encontra-me entre as árvores, onde havia me escondido. E aquele frescor enfurece e levanta o pó do chão de terra, redemoinho de folhas secas. Zéfiro, o vento do oeste, sopra o desejo morno sobre mim, ainda Clóris, a inocência prestes a partir. O pavor da queda paralisa; não olho para baixo. A histeria sacode-me o espírito. As Cárites dançam a minha frente, enquanto Mercúrio - distraído - as ignora. E Zéfiro toma-me à força, enquanto lançamo-nos ao infinito desconhecido do mundo novo, do fim da resistência à minha natureza, à minha estação de flores.
Torno-me mulher: sou, enfim, Flora.
:)
Mercúrio "distraído" foi foda... rs
Mercúrio distráido foi foda mesmo, hahahaha.
Mas há também a nossa querida Vênus, que assiste tudo como uma voyeur, casta e puta, vendo todos se perderem em seus domínios...
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