O medo é a força motriz da vida. É ele o açoite que impulsiona o espermatozoide a nadar até o óvulo para assim não ser descartado. É ele que transforma a beleza do milagre da vida em hesitação na hora do parto, quando a mulher compreende que ela carrega um parasita dentro de si e que é chegada a hora de expulsá-lo e a única maneira de fazê-lo é através de dor e sangue. Simplesmente a própria razão de termos filhos é fruto do medo, o medo de não termos feito nada de relevante, de que ao morrermos, não deixemos nenhuma continuidade, não deixemos nada para trás. E é por medo da solidão quando a morte nos visita que casamos, para agonizarmos com uma companhia para nos distrair do fim fatídico.
O medo é um amigo ancestral do homem, é devido a ele que criamos o fogo, pelo medo que as trevas nos despertavam, mas assim que conseguimos arranjar uma arma contra a escuridão nos demos conta da existência das sombras. O desconhecido é a morada primitiva de todos os nossos medos, a religião é a piada cósmica do medo, tanto que um de seus mandamentos é temer a Deus. A paranoia, as neuroses, os acessos, todos são derivados do medo, fantasiados de outros nomes, para que possamos conviver com o nosso medo de uma maneira mais possível.
Hoje, nos prendemos, nos enjaulamos, nos distanciamos, nos fechamos, nos protegemos atrás de mentiras e convenções sociais para que possamos de uma maneira, controlar as nossas relações, por medo de nos deixarmos levar pelos outros. O medo pode excitar, por esconder possibilidades nem sempre nefandas, é a ilusão erótica do medo, a fantasia de que de alguma forma o Universo não conspirará contra e sim, reservará algo especial para nós.
E de todos os medos inimagináveis, nenhum é maior do que o que o escritor enfrenta, porque sua matéria-prima é a massa amórfica do pensamento, incontrolável e imprevisível que é o maior dos desconhecidos: o insondável abismo que reside na alma humana. Então, de tudo que posso temer, nada temo mais do que a mim mesmo, do que posso criar, do que posso parir, do que posso encontrar bebendo dessa fonte chamada imaginação onde não existem limites, barreiras ou leis.
O Homem é o Lobo do Homem. Eu sou o meu Lobo.
2 comentários:
Quando meus medos me assombram de formas quase que incontrolável, vago pela net lendo, "facebookiando", ouvindo Blind Guardian e eis que caio novamente em sua página e seus escritos vem de encontro com minha alma...se isso é bom? Não sei te dizer mas as vezes parece ler nas entrelinhas do que penso...sua fã incondicional de sempre.Bjo nesta alma linda e rara.
Muito obrigado minha querida, você tem muito bom gosto, Blind Guardian é incrível e fico muito feliz em saber que alguém ainda companha esse meu jornal literário. Seja sempre bem-vinda e sinta-se à vontade.
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