Os Altos Sinos da Glória racharam ao anunciar a Ordem do Altíssimo. Uma palavra, a palavra final, um verso que abalaria e ecoaria por todo o universo. No início era o Verbo, e este verbo imperativo foi o início do fim. E o nascimento do Pecado.
O céu outrora sempre claro, límpido, boreal e cintilante pela primeira vez se enegrecera. Nuvens de perturbação, trovões e raios tempestivos de revolta surgiram simbolizando a fúria de Deus diante de sua primeira criação, A Estrela da Manhã, o Portador da Luz, o primeiro e mais alto nos escalões divinos havia se rebelado, contestado o Criador.
Lúcifer sempre fora a Mão Direita de Deus, seu Alto Comandante e Emissário, o mais próximo do Trono, coroado com fogo e luz e sabedoria além do concebível a toda a Criação. Mesmo assim ele queria mais, o Poder que assumira era invejado e ele não possuía ninguém mais para invejar a não ser o Poder Dele. E ele desejou o próximo e disseminou a Semente da Discórdia entre os anjos. Desde os Altos Arcontes até aos Querubins a dúvida estava instaurada. A língua de prata de Lúcifer tocara seus corações e fizera com que os sete Paraísos reverberassem a sinfonia que ele regia, a Rebelião.
Deus em sua Clemência demente e petulante concedeu a Lúcifer a chance de desistir, de ceder e pedir Perdão por sua ambição. Se dobrasse os joelhos e se humilhasse perante a Ele, tudo seria esquecido. E Lúcifer pela primeira vez pensou consigo - "Melhor ser Rei no Inferno a ser um servo no Céu".
As harpas e cítaras se calaram, os hinos silenciaram-se. Os corais, as notas doces da Harmonia haviam se perdido. Uma nova canção seria cantada, a canção do Exílio, pois Lúcifer fora banido do convívio de Deus, banido da Luz para as Trevas. Expulso para sempre e que com ele seguisse todos que partilhassem de seus sonhos de grandeza. E legiões o seguiram, um terço das hostes marcharam atrás daquele que se tornava cada vez mais negro e terrível ao se distanciar do Palácio de Cristal.
Os Querubins choraram como recém-nascidos e puxavam o manto de Lúcifer, tentando fazê-lo desistir, as Graças estendiam suas mãos em saudade e desejo de pedir para que ele ficasse. Mas o silêncio era o grito que saía de suas bocas. Eram cordeiros de Deus, um gado sem força ou vontade própria, e ele, Lúcifer, era um Leão, uma fera que não podia ser controlada por ninguém. Ou seria banido ou destruído e Deus hesitara, pois em Lúcifer, mesmo ele sendo o anjo rebelde e ambicioso que se despedia sem adeus, mesmo assim ele carregava o reflexo e a Imagem Dele em si.
Afinal Deus é também orgulhoso e prepotente, superior e insuperável e em silêncio, se admirava da coragem de sua cria, abismado com a audácia que refletia Seu próprio Ego. Deus sorriu quando ninguém viu e Lúcifer caiu em chamas e urros. Vaidoso, em uma cena teatral. A Estrela que queimou a Terra e incendeia o coração humano, o aquecendo e devorando ao seu bel prazer. E desde então Deus tem com quem brincar.
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7 comentários:
pelamordedeus Zé Rodolfo.
você é genial.
escreve demais.
Obrigado Marisa in the Sky, é sempre bom saber que tem alguém que ainda lê este blog. Continue lendo e comentando, abraço!
sempre leio :)
Sou fascinada pela mitologia que rege o céu e a terra. O bem e o mal, quem é quem afinal dentro dos sentimentos egocêntricos que os regem?
Adorei!
Sou fascinada pela mitologia que rege o céu e a terra. O bem e o mal, quem é quem afinal dentro dos sentimentos egocêntricos que os regem?
Adorei!
Obrigado Andréa, eu também gosto da mitologia cristã e de mitologia em geral; mas o maniqueísmo da cristã de bem e mal e seu simbolismo sempre me traz uma inspiração pra escrever.
Tem textos que não me canso de ler e reler...
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