quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Banquete de Cronos


O Tempo a tudo devora
Cronos devorou seus filhos
Saturno foi castrado por sua própria foice
Símbolo da morte inegável a todos
Os ponteiros são lâminas
O relógio um presságio
Somos todos cadáveres adiados

Os deuses nos invejam
Morrer é uma dádiva
Ser imortal é uma maldição
Só não muda aquilo que está morto
Mesmo que qualquer mudança seja vã
Ainda assim a centelha efêmera
Torna a chama da esperança acesa

Podemos mudar o mundo
Como Prometeus prometeu?
Ou somos só vermes imundos
Aplacados da dor por Morfeu?

Não somos o centro do Universo
Não somos absolutamente nada
No reflexo do lago nos apaixonamos
Herdeiros de Narciso e das fadas

Acreditamos, temos fé, nos embriagamos
De mentiras nem sempre doces
Como nos bacanais de Dionísio,
Para que doa menos da vida o açoite

A hora de todos irá chegar
O arauto do caixão é o berço
Só nos resta compreender a verdade
E não passar apenas as areias do destino pelos dedos

O mundo já estava aqui quando chegamos
E continuará depois que partirmos
A grande pergunta será
O que fizemos para mudá-lo enquanto vivos?

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