presume-se que a mulher na janela seja Alexandrina
Edwiga renomeada como Elvira morreu depois de um parto feito no meio do mato. Seu marido abria estradas de ferro e levava junto sua família para os confins do interior do país. Ela ficava a maior parte do tempo sozinha com as crianças e a mãe. Foi assim que Elvira deu à luz a um bebê e perdeu sua vida. A criança morreria de fome uma semana depois.
A mãe de Elvira, avó de Alexandrina, ao acolher o neto nos braços disse tristemente para que a filha morta levasse o filho junto porque naquele fim de mundo ninguém seria capaz de mantê-lo vivo. A mãe teve que enterrar a filha e o neto enquanto cuidava dos demais netos desamparados até o genro retornar e descobrir o que acontecera com sua família.
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A mãe de Elvira e outros membros da família não conseguiram suportar os sacrifícios que o inferno verde dos trópicos exigia e tentaram voltar para a Rússia. Sendo considerados traidores de sua terra pelo regime comunista eles acabaram por se estabelecer na Polônia. Os demais parentes de Alexandrina que permaneceram aqui continuaram a trocar cartas com a família além-mar por décadas.
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O irmão de Alexandrina, Luís Poss Filho, morreu aos dezoito anos enquanto trabalhava derrubando árvores. Luís foi esmagado por um tronco imenso que tombou sobre ele. Pai e filho deram suas vidas para abrir caminho ao progresso da era moderna do Brasil.
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O pai de Alexandrina que perdera a esposa e o filho enquanto abria caminho para os trens encontrara seu fim no dia treze de março. Elvira teria profetizado em um momento de predestinação, semelhante ao que Alexandrina experimentara na viagem, a data da morte do marido.
A cada ano que essa data passava o velho Luís Poss sabia que tinha mais um ano de vida já que realmente acreditava nas palavras proferidas por sua esposa até que enfim chegou sua hora. Luís prometera a Elvira que se caso ele a perdesse ele não se casaria novamente e manteve sua palavra morrendo viúvo no dia em que ela determinara.
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da esquerda para a direita o quarto homem é João Doscka Klimek
Alexandrina
casou-se com João Doscka Klimek, nascido
João mal parava em casa e quando ia embora deixava mais um filho dentro de Alexandrina. Certa vez em uma de suas visitas ao ver a situação precária da família teria aconselhado à esposa que ela e os filhos comessem pedra para saciar a fome demonstrando o desacordo em deixar uma mulher cuidar da casa e da terra.
Segundo Alexandrina este comentário demonstrava o desapreço do marido à sua capacidade de cuidar da casa, dos filhos e do plantio revelando sua posição contrária em relação a adquirir aquela propriedade e deixar que uma mulher ficasse responsável por ela. Ao retornar outra vez João se deparou com a fartura da horta regada ao sangue, suor e lágrimas de Alexandrina que se vingou das palavras do cônjuge lhe oferecendo um banquete.
Alexandrina criou e cuidou dos filhos sozinha. Um menino morreu um tempo depois de nascer e outro aos sete anos. João Klimek teve relacionamentos extraconjugais e seus filhos vivem espalhados pelo interior.
Ele fora descrito por Alexandrina como um homem ausente, frio com quem ela manteve um relacionamento sem convivência durante décadas pelo bem dos filhos. Assim que a última filha se casou Alexandrina imediatamente se separou de João pondo um fim ao casamento infeliz.
Mesmo sendo o divórcio algo tão contrário aos preceitos religiosos cristãos que Alexandrina acreditava, sua vida e liberdade estavam acima destas crenças e ela após aturar tanta coisa finalmente teve sua paz ao viver independentemente.
Ao menos João
deixou para Alexandrina a casa em Itararé onde ela viveu até o fim da vida. Alexandrina
faleceu em mil novecentos e noventa e oito morando sozinha e rezando o terço
todos os dias.
Alexandrina, seu filho Valdomiro e família
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