segunda-feira, 13 de novembro de 2023

DEPETRIS - Das Pedras à Pedra que o Rio Cavou - VIDA E MORTE - Capítulo IX


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DEPETRIS

Das Pedras à Pedra que o Rio Cavou

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LEGADO - Capítulo IX

Conviver com os meus avós foi um presente que me marcou profundamente e fez de mim, em partes, quem eu sou. Minha filha Sofia e meu filho Igor puderam ao menos um pouco partilhar desta vivência e agradeço demais por isso pois sei o valor dos avós (ou bisavós) para uma criança.

Minha mãe que conviveu praticamente a vida inteira com eles talvez não tenha podido receber o carinho que eu recebi e mesmo assim endereça a seus netos todo o amor que a ela não lhe foi dado como ela gostaria quanto filha. E por isso a agradeço demais por não repetir o ciclo de frieza e conseguir romper essa barreira e abrir o coração para os netos e filho.

À minha mãe, ao meu avô Sebastião e à minha avó Ilda, aos meus filhos Sofia e Igor e à minha mulher Ellen dedico estas memórias para que se conserve o legado das histórias, os causos, os contos e os absurdos que a gente ria juntos e que agora causam sorrisos de saudade.

Ao resgatar a história da minha família – um exercício de escrita e entrevistas que comecei em 2003 e que agora vinte anos depois após a despedida de meu avô encerro – eu preservo a minha leitura de vida e história para que fique para a posteridade registrado não só os que vieram antes de mim, mas eu mesmo me capturo para os que vieram e vierem depois possam conhecer um pouco do passado e não esqueçam do menino que aprendeu a contar histórias com seu avô e do homem que amava sua família.

Finalizo este trabalho de décadas com um tesouro que descobrimos ao desbravarmos os pertences de meu avô. Além de fotos e outras bugigangas de um acumulador contumaz minha mãe encontrou uma página de caderno com um poema de meu avô datado de 2015.

Ali ele deixou aflorar seus pensamentos sobre a sua vida com uma lucidez surpreende. Esse poema é uma prova de que Sebastião tinha sentimentos como eu devo ter de alguma forma pela convivência me infectado com o germe da poesia que nele se escondia pois desde a adolescência a literatura me rende frutos em prosa e verso e até então eu não sabia de onde vinha esta inspiração.

Em 2008 fiz um pequeno poema citando meu avô e suas histórias revelando a sua influência em meu processo criativo e vida.

Seguem ambos os poemas.

 

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Já carpi roça na enxada

também já fui tropeiro

depois vim pra cidade

virei caminhoneiro

conheci mais da metade dos estados brasileiros

 

Já bebi água de poça

dormi em cima de urutu

pesquei no poço do inferno

já desci no brucutu

gosto de pescaria

mas não como peixe cru

 

Já fiz viagem longa

do Uruguai a Pernambuco

os limão que me atiraram

espremi, fiz virar suco

hoje vou até Santa Cruz

beber pinga e jogar truco

 

Nasci de família pobre

mas fui muito feliz

não casei com moça rica,

não casei porque não quis,

hoje vivo na sombra

na sombra que eu mesmo fiz

 

18/01/2015

 

Sebastião Depetris

(22/05/1934 - 13/07/2023)

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O PÁSSARO

 

Passarinho assustado, se aninha no meu peito

Não é armadilha, não é gaiola, é só o meu jeito

Deixa, esquece o barulho feio do trovão

 

Vem, repousa no refúgio, faz de mim o seu abrigo

Descansa a cabeça, alivia o peso, confia em seu amigo

E esquece a tormenta que atormenta o seu coração

 

Fica perto, pra eu te contar as histórias do meu avô

Pra eu te ninar, entre os meus pelos

Para eu te carregar em minhas mãos

 

Vem sonhar sonhos verdes

Quando tudo é escuridão

 

02/02/2008

 

JOSÉ RODOLFO KLIMEK DEPETRIS MACHADO

(03/10/1986)

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