Da esquerda para a direita: O Velho Augusto, José Manuel Batista Dias (marido de Idália), José Depetris (acima dele está sua filha, Edite Depetris), João Depetris (irmão de José Depetris), Delfina de França Depetris (esposa de Augusto; acima dela está Joubert, filho de João Depetris), Pelegrina Taverna Depetris (esposa de João Depetris, conhecida na família como “Tia Pina”; acima dela está sua filha Ursula), Idália Depetris Batista Dias (irmã de José Depetris; em seu colo está seu filho, José Alcides Batista Dias), meu avô Sebastião Depetris e Dona Alcina, conhecida da família
Foto tirada na Vila Jurandir Pimentel
(Vila “Jôra”) no início da década de 50
***
DEPETRIS
Das Pedras à Pedra que o Rio Cavou
***
VELHO AUGUSTO - Capítulo IV
Com exceção de Evandro Depetris, o “Wando”, que nasceu em Riversul (na época Ribeirão Vermelho do Sul) todos os outros filhos nasceram no idílico e bucólico Cadeado, bairro rural de Jaguariaíva, distrito de Bertanholi; o que não significa que eles foram registrados no local. Na época era comum registrar os filhos tempos depois do nascimento e geralmente em outro local, mais próximo da civilização. Pelo menos meu avô e a sua irmã, a “Negra”, foram registrados em Cerro Azul.
Meu avô nasceu em vinte e dois de maio de mil novecentos e trinta e quatro, dois anos depois da Revolução Constitucionalista. O terreno no Cadeado foi dado pelo pai de José Depetris Sobrinho, o “Velho” Augusto, que em uma reconciliação com o filho depois de uma rusga presenteou-o com uma fazenda de quinhentos alqueires. Pai e filho moraram por lá até se mudarem para Ribeira, Itararé e voltarem para Ribeira.
O Velho Augusto
era subdelegado do Cadeado, bravo e valente de acordo com as memórias de meu
avô, impunha respeito na região com seu revólver 38 e sua carabina 44. Sua casa
era a única na região que possuía telhas de barro, todas as outras eram cobertas
por simples tabuinhas de madeira feitas por ele mesmo.
Carpinteiro excelente o Velho Augusto extraía da natureza as toras cujas quais cortava as tábuas de madeira para erguer as residências. Contava meu avô que seu avô era tão agreste que tinha como hábito mascar folhas de pimenteira e de outras plantas insuportáveis para a maioria do paladar humano como se fossem simples goma de mascar. Sua bravura desafiava até o temível.
O Cadeado onde meu avô morou na infância era conhecido por em seus cerros surgirem bolas de fogo voando rápidas na escuridão. As pessoas temiam o Boitatá, mas o Velho Augusto não. Quando foi avistada a passagem do olho vermelho que deixava um rastro serpenteante de faíscas no ar ao longe todos tremeram murmurando baixo que aquele era o Boitatá. O subdelegado cortou o alumbramento dizendo que aquela luzinha não se tratava de nada mais do que um vaga-lume. O tal valente Augusto não se dignou em ir enfrentar a criatura, porém era bom em gargantear, isso com certeza. E meu avô claramente o admirava e seguiu seu exemplo.
Outro ponto interessante sobre os Boitatás segundo as lendas do Cadeado é que eles também brigavam entre si. A família Moreira do Cadeado contava uma história que meu avô escutou quando era criança de duas criaturas que lutavam no alto de um pinheiro próximo da casa dessa família provocando uma chuva de fogos a cada golpe. O cachorrinho da casa, sem noção do perigo que representava aquilo, avançou latindo embaixo de onde as duas esferas combatiam e acabou recebendo toda a chama delas. Os ferimentos foram tão graves que não havia nada que se pudesse fazer para salvar o animal. Um rapaz tomado de raiva pegou a espingarda e atirou nos Boitatás. Eles respingaram brasa e alçaram vôo para longe cada um em uma direção. Por certo o Velho Augusto se soubesse desse feito dos Moreira teria feito pilhéria do caso como lhe era de costume quando ouvia qualquer coisa a respeito de seres feéricos e de atitudes de bravura de outros homens.
Um conhecido de Delfina também passou um apuro com um Boitatá certa vez. Contava Delfina que um homem estava a cavalgar e precisava passar por um morro quando avistou no alto de um pinheiro uma pequena luz. Furtivamente apeou e trazendo o cavalo pelas rédeas se aproximou tentando passar despercebido o máximo que pudesse. Ele só foi capaz de dar alguns passos até a luz se transformar em uma fogueira e ir de encontro a ele. Sem outra opção o homem assustado teve que mudar sua rota para fugir do Boitatá.
O Velho Augusto
cultivava a erva-mate e bebia o chimarrão dos gaúchos mesmo sendo imigrante de
italianos que vieram como seu pai, André Depetris, para o Brasil em um barco a
vela. Dizia ele que quando sua família
avistou o porto de Paranaguá o povo se alegrou tanto que fizeram uma festa
Augusto se identificou com os hábitos do sul do Brasil e mantinha uma pose de valente tal qual os rio-grandenses-do-sul. Sua mulher, Delfina de França Depetris, com quem teve oito filhos, faleceu em setembro de sessenta e um. A família para diferenciar a sogra da nora, ambas Delfinas, se acostumaram a chamar a mulher de José Depetris e mãe de meu avô de “Derfa”. Curioso salientar que o nome Delfina que deriva do grego Delfim que por sua vez significa golfinho era um nome assaz ordinário no começo do século passado.
Quando se casou Derfa vivia com o pai, Antonio Diogo, e então se separou dele para ir morar no Cadeado com a família do marido. Derfa e José repartiam muitas coincidências. Além da origem imigrante apreciavam bastante o tabaco. José se limitava a muito de vez em quando queimar um cigarro de palha enquanto Delfina fumava cigarros comerciais e com bastante frequência. José gostava de bebericar uma pinga de tempos em tempos, todavia o que lhe causou o fim foi o mesmo destino de sua mulher: o pulmão de ambos se fragilizou com o abuso constante o que os levou à morte.
O mesmo ocorreu de certa forma com o próprio Sebastião que teve sua saúde muito debilitada no fim da vida devido a um enfisema pulmonar conquistado por décadas de fumaça tragada de cigarros de palha e comerciais lhe obrigando a utilizar um tubo de oxigênio para respirar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário