quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Só de Sacanagem



autoria de Elisa Lucinda
interpretação de Ana Carolina
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"Só de sacanagem"
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Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro, Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós. Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz. Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó E dos justos que os precederam: “Não roubarás”. “Devolva o lápis do coleguinha”. “Esse apontador não é seu, minha filha”.

Pois bem, se mexeram comigo, Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, Então agora eu vou sacanear: Mais honesta ainda vou ficar!

Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” E eu vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez”. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. E eu direi: “Não admito, minha esperança é imortal”. E eu repito: “Ouviram? IMORTAL!”Sei que não dá para mudar o começo Mas, se a gente quiser, Vai dar para mudar o final!
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Vejam o poema declamado por Ana Carolina no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=IhcaD2y0TZ0
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Vi esse poema no Programa do Jô nessa quarta-feira, dia em que as meninas do Jô comentam a política nacional. Independente de quem goste da idéia ou não do programa, achei o poema tão bonito, simples e algo que agrega tudo o que nós queremos dizer, que não pude deixar de fazer uma postagem. Quem sabe no Youtube esteja logo o vídeo da própria autora declamando seu poema, em todo caso, a Ana Carolina fez isso de uma forma tão bem feita, que aconselho quem gostar da poesia que assista o vídeo do link. É isso, até mais.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Copiei o Homem que Copiava


Soneto de Shakespeare
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Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Poia as graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
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tradução Ivo Barroso
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Já que estamos falando de Shakespeare, mostrando que além da sua famosa dramaturgia genial, o escritor e o poeta Shakespeare possuem também muito para mostrar. Pensando nisso, me lembrei do filme "O Homem que Copiava" que cita um soneto do bardo inglês, e como também sou um grande admirador do cinema nacional, decidi homenagear ambos aqui. O soneto fala, como vários outros poemas de Shakesperare sobre o tempo, a velhice e a morte, já o filme, trata de vários assuntos, desde a desigualdade social quanto a falta de emprego para os jovens e a globalização de informação fácil e incompleta.
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Para quem quiser conferir, pode entrar no link abaixo e conferir o poema no filme e um breve trailer do mesmo.
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