segunda-feira, 27 de julho de 2009

Mulher & Vida



E no entanto a mulher, com lábios de framboesa
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,
Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.
As lágrimas eu seco em meios seios triunfantes,
E os velhos faço rir com o riso dos infantes.
Sou como, a quem me vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,
Quando um homem sufoco à borda de meus lábios,
Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"

As Metamorfoses do Vampiro - primeira estrofe
Charles Baudelaire



Ela é misteriosa como as mulheres ciganas, tão cheia de segredos quanto a esfinge
Olhos quais os de uma moura, rasgados e desafiadores tais quais os de um lince
Sabe como a amante e a meretriz as artes secretas da sedução e do amor
Tão destemida, profana e inerente como as deusas da fertilidade pagãs
Conhece o futuro de um beijo como a mais sábia das sibilas
Me prende entre as coxas, a minha mais feroz inimiga
Sussurrando palavras mágicas dentro de meu ouvido
Deitando fogo em carne no meu leito, me servindo
À pira dos hereges, o fogo das feiticeiras
Nada queima tanto quanto sua pele
Me contaminando com seu desejo
Ardendo fico, doente e em febre
Envenenado por seus beijos
Dançarina do ventre
Serpente que baila
Enguia úmida que
Ao toque se abre
Flor e rio, ninfa
Vítima minha
Mulher

Cabelos vivos, que valsam com a brisa, medusa de olhar vítreo
Transformando aos meus olhos todas as outras em manequins ínfimos
Escravizando o meu desejo ao seu corpo quente, me viciando em seu cio
Amazona que aprisiona o corcel dentro de si, serva que é senhora no íntimo
Cantando gemidos, dançando com os quadris, coleando, osculante, perdidamente
Te cobrindo, currando, fornicando, cópula, cruzando juntos é que nos descobrimos
Enigma que se desfaz, profecias que não se cumprem, delírios insanos e conscientes
Guerra só de perdas e derrotas que somam gostos selvagens, batalhas de morte e vida
Ameaças deliciosas, armas de prazer, transformações bestiais, festivais de gozo e gritos
Feridas inesquecíveis, sensações plenas, certeza de que encontramos o cúmplice perfeito
Aos nossos crimes de volúpia, assassinatos de luxúria, condenados a não se satisfazer nunca
Eternamente implorando por mais, imponentes e orgulhosos de nossa pena, queremos pagá-la
Rastejando de fronte erguida, cuspindo na face divina, desafiando e provocando a todos por toda
Vida


terça-feira, 14 de julho de 2009

Incubus

Oh, Incubus maldito!
Derrama-te inteiro em meu ventre
Verbum caro factum est!
Materializa a palavra impura
Profana meu corpo indecente
Aspira minh'alma perdida
e prende minha pele em teus dentes.
Verbum caro factum est!
Teu verbo transborda em carne
E perverte as preces em grito
Penetra a cova macia
Oh, Incubus maldito!
Tua palavra me faz carne
E o coito segue glorioso
Verbum caro factum est!
Despeja espesso em mim
O verbo fluido e gozoso!

POSTADO POR NINA