terça-feira, 5 de novembro de 2013

HALLOWEEN

Era tarde da noite, sozinho com seu rebento a dormir ao seu lado ele repensava sua vida, suas escolhas e o seu futuro. Tudo tão confuso, complicado. Sua felicidade era imensurável, finalmente era pai, porém o caminho até ali tinha sido árduo. Queria ter viajado mais, conhecido outros países, sempre sonhador, um jovem que sonhava em ser admirado como os velhos sábios são e poder contar histórias de uma existência plena. Em partes esse seu pedido estava sendo atendido naquela noite, era seu aniversário, um ano a mais de experiência, um ano mais próximo da morte. E ele comemorava velando o sono de seu filho sentado em frente a tela do computador, completamente perdido em si mesmo na noite de 31 de outubro...

Quando de súbito percebeu ao acabar um vídeo do Michael Jackson que assistia no Youtube uma música ao longe, uma música que sempre lhe causou arrepios. Desde sua infância quando a sua inocência foi roubada por um filme onde um monstro tomava a forma de um palhaço contraíra incurável fobia por tais artistas. O circo para ele era um espetáculo de horror infernal torturante como em uma série que assistiu, Carnivale, e era exatamente a música feliz e engraçada comum a todos os picadeiros que ele ouvia sussurrar por entre seus ouvidos. Um arrepio lhe subiu a espinha, suas mãos começaram imediatamente a suar, sua cabeça latejava.

A música vinha do lado de fora da casa e procurando enfrentar o seu medo foi até a janela para saber do que se tratava em uma tentativa de aplacar a sua consciência. No campo que há em frente a sua casa avistou as luzes e a lona da trupe circense envolta em uma névoa espessa. Estava frio, nuvens carregadas tomavam o céu, aquilo tudo era muito estranho, afinal já era tarde demais para haver um espetáculo e ele não se lembrava de ter visto a caravana chegar naquela tarde e nem ter os visto montar acampamento. Era simplesmente como se eles tivessem surgido de um pesadelo para lhe assombrar.

Olhou para o portão e viu o seu cão, um pitbull brincando com alguma coisa, de repente percebeu que uma figura ajoelhada mexia com o cachorro. Um ser de cabelos esvoaçantes e coloridos, com uma roupa larga e extravagante e um sorriso doentio em lábios pintados o descobriu na janela e o convidou para participar do espetáculo de estréia. Eles se apresentariam somente aquela noite e ele seria o convidado de honra, eles tinham vindo até ali só para ele, o palhaço terminou o convite o chamando pelo nome - KHALED.

Seu sangue gelou nas veias, paralisado não sabia o que fazer, em uma reação de desespero fechou a janela com toda a sua força e a trancou com o cadeado. O barulho fez o seu filho acordar e ao ir vê-lo ele percebeu no corredor que liga a sala à cozinha um vulto o fitando. Não era possível, ele estava dentro de sua casa! Correu de encontro ao carrinho de bebê, mas ele estava vazio, no lugar uma boneca antiga de porcelana com o rosto pintado com uma maquiagem borrada lhe gozava. Uma risada histérica veio do corredor, ele era enorme e carregava consigo o seu filho. 

Khaled estava petrificado, sua alma, sua sanidade posta à prova, ninguém menos do que Pennywise estava em pé em sua sala com seu filho no colo e com aquela voz grossa e jocosa que ele jamais irá esquecer lhe perguntou:

_Don't you want a balloon? 

E sem esperar uma resposta puxou uma bexiga vermelha da mão que escondia atrás das costas e assim que o rapaz pôs os olhos no balão, ele estourou, lavando-o de sangue quente.

O susto o fez acordar com um grito. Seu filho estava chorando e a música Dragula de Rob Zombie tocava repetidamente no Music Player. Aparentemente tudo não passara de um sonho, entretanto aqueles olhos bestiais e aquele sorriso demoníaco jamais seriam apagados de sua lembrança. A cada aniversário o temor de uma nova visita o assombraria até a morte. E a música do circo ainda ecoava em seus ouvidos...