sexta-feira, 18 de março de 2011

Hóstia



Nevava, Matilde estava nua em seu apartamento minúsculo. O último cliente do dia acabara de partir e ela aproveitava para relaxar. Estava cansada, a pele quente lavada de suor e esperma, mas feliz. Era véspera de Natal e Matilde sempre acreditou que as pessoas se tornavam melhores nessa época. Por exemplo, o último cliente em questão havia deixado uma maço de cigarros caro de presente para ela. Isso tinha que significar alguma coisa, não?
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Começou a recordar de quando foi violada por seu pai, de quando apanhou de sua mãe quando ela soube e da inveja dela por saber que sua filha dava mais prazer ao seu marido que ela mesma. O orgulho de se tornar a puta mais procurada da rua e de receber até mesmo seus primos que há muito fantasiavam com seu corpo. A decepção ao procurar um pouco de ajuda na fé e perceber que o padre se masturbava enquanto ela confessava com detalhes o que fizera com cada cliente do dia.
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No entanto tudo aquilo era passado, os anos ensinaram Matilde. E ela ensinou os clientes, ninguém mais tentou sair sem pagar ou quebrar a sua cara. Seu amigo que por muito tempo ela dividiu um quarto na pensão da Salomé lhe ensinou a usar a navalha e ela brandia a lâmina como ninguém. Ela em contrapartida o maquiava e o deixava lindo, uma linda rapariga que fazia o que os homens quisessem, era menino e menina e cobrava caro. Matilde sentia falta daquele viado, ele era muito engraçado, pena que foi embora tão cedo devido a "maldita".
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Matilde esteve com ele nos seus últimos dias e ele deixou para ela suas economias. Foi com esse dinheiro que Matilde conseguiu comprar o apartamento que agora vive. Se fosse para ela se apaixonar por alguém, seria por aquele rapaz lindo com rosto de boneca. Porém Matilde sabia que nenhum homem poderia de fato amar uma mulher como ela, todos eram animais e procuravam apenas se saciar. Só havia um a quem ela poderia se entregar sem medo.
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Pegou o crucifixo roubado de uma tumba enfeitada no cemitério e abriu as pernas deixando o amor invadi-la. Apenas Ele sabia o que era amor e Matilde orou por horas, engolindo à sua maneira o corpo de Cristo em comunhão com o seu próprio.

Um comentário:

Andréa Ferraz disse...

Nossa Zé! Sem ar depois de ler isso...mto bom!!