sábado, 14 de janeiro de 2017

Teoria do Caos


"É impossível" - eles me disseram. Repetidamente, sistematicamente eles tentaram me fazer acreditar, me doutrinar sobre a estabilidade do padrão estabelecido, do sistema vigente, da realidade presente. Não importa o quanto você tente, o quanto se comprometa e quanta força dedique nada é possível de mudar: as coisas são como são. O mundo já estava pronto antes de você nascer e continuará igual após a sua morte. Esta era a mensagem que a escola, que a família, que a religião, que as instituições governamentais e que a elite da sociedade propagavam para a grande massa. A hierarquia estava estabelecida e para manter a pirâmide da injustiça e da desigualdade este discurso, esta lavagem cerebral era passada de geração em geração, um pessimismo tóxico que se espalhava como uma praga, como um vírus. Um fatalismo inerente que sabotava qualquer pensamento de revolta, de diferença, de mudança. Ou quase isso.

Afinal, em qualquer grupo há aqueles que por mais que tentem, não se encaixam. Os marginais, os esquisitos, os indesejáveis. A última ponta de resistência em um mundo rotulado e classificado conforme a vontade e poder dos mais ricos para domar os milhares de milhões mais pobres. Porque o mundo não está pronto, somos jovens e antes de tudo, no início do universo fomos todos poeira estelar. Foi a mudança que é a essência da natureza que transformou este pó em galáxias e sistemas solares, estrelas, até chegar na vida e em nós. A mudança está acontecendo, apenas leva mais tempo do que podemos perceber para notá-la. Contudo há outras formas pelas quais também podemos nos dar conta que tudo está em transformação.

Uma gota é praticamente imperceptível no grande esquema das coisas, mas quando somada a muitas outras pode criar uma tempestade capaz de varrer cidades inteiras do mapa. A força está nos números. Uma manada unida pode repelir o ataque dos predadores já um animal sozinho está fadado a perecer. E é nos pequenos detalhes que esta força se infiltra. É com pequenas rachaduras que se desmorona um forte, um castelo, um palácio, um império. A alquimia da transformação diária e constante, singela, é inexorável. Como o clima que ninguém pode antever não importa quanta tecnologia consigamos criar e desenvolver. O tempo pertence ao desconhecido e assim será. 

Você pode calcular a distância entre astros no vazio do espaço, entretanto não saberá como estará o tempo daqui a alguns dias. Pois isto é imprevisível pois os fatores que o tornam como tal são pequenos, singelos, discretos e delicados e não podem ser medidos por nenhuma máquina. Uma janela aberta que deixe o vento entrar pode contribuir para uma mudança fundamental no clima, uma pipa no céu pode ajudar a reger o amanhã e se ele será ensolarado ou nublado. O bater de asas de uma borboleta pode decidir se existirá um furacão no outro lado do mundo ou não. Esta é a beleza da incerteza da teoria do caos. A única coisa que podemos dizer sobre ela por certo é que a mudança é viva e depende de micro-ações. Se podemos conseguir resultados tão importantes e marcantes com atos tão pequenos por que não poderíamos mudar o mundo, a nossa sociedade, da mesma forma?

A revolução começa internamente, em pequenos e constantes ações. Uma mudança para se tornar uma pessoa melhor torna o mundo melhor. Reconhecer que é preciso mudar a si para mudar o resto não é fácil, pois não fomos ensinados a abrir mão do orgulho e dizer que temos defeitos, que estamos incompletos e vivendo eternamente um processo. Não nascemos prontos e não morreremos prontos. Tudo é mudança e você pode decidir fazer parte dela ou se prender com cadeados invisíveis em correntes ao passado. É impossível impedir o avanço das coisas. Eu escolho mudar, melhorar, sonhar e acreditar que é possível. Se uma borboleta consegue interferir na vida de milhares de pessoas e reinar sobre os céus com suas pequeninas asas eu posso ajudar a melhorar o mundo mesmo sendo igualmente pequeno e fraco. 

Sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade. E aos poucos, mesmo que muitos me pressionem para desistir e que tentem me manter no padrão da razão de não me envolver, de permanecer estático e servir de pilar para um mundo que não me aceita e que eu não concordo, aos poucos, eu vou fazendo a diferença. Mesmo que pequena, só o tempo dirá o quão importante ela será. Se não for uma grande diferença para melhorar a minha realidade, mesmo assim estarei satisfeito. Estou pavimentando e construindo a fundação para sonhos mais ousados para os que vierem depois de mim e deixar este legado de possibilidade ao invés da ordem de se castrar por toda uma vida é o melhor que posso fazer.

Obrigado aos que me ajudaram a mudar, aos que acreditam na mudança e aos que compreendem e me aceitam no processo de melhorar. O primeiro passo para isso é deixar de julgar os outros e começar a analisar a si mesmo. Muitos dos erros que você enxerga fora se repetirão em si, já que eles provêm do mesmo lugar: da lição de preconceitos engendrada no núcleo histórico da nossa sociedade. Aprenda a se compreender e se perdoar que isso se estenderá ao seu próximo e tornará a sua vida mais leve, com menos angústia.

Vamos mudar dentro para refletir fora. Com menos condenações precipitadas e mais dúvidas do que certezas sem abrir mão do que é certo, compreendendo que também erramos e precisamos aprender e nos perdoar por isso.
 

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