domingo, 1 de novembro de 2009

PARLA


Se eu pudesse transformaria o mais belo mármore

Talhando a pedra fria em tua carne

Desenhando teus olhos de moura, de lince

E faria de seus cabelos a perfeita moldura

Para desenhar o rosto teu, minha maior obra-de-arte

.

A boca maliciosa e pequena

As maçãs que trazem consigo a perdição dos homens

O nariz indolente e austero que me fareja

E enfeita a face do meu mais doce pecado

.

Eu faria com todo cuidado

Seu pescoço como um altar

Sustentando o orgulho, a vida e a morte

Ligando-os para o corpo perversamente

Esculpido em silhuetas

.

E os seios fartos me tomariam tempo

Pois me provocariam, mesmo presos

Ao frio elemento imóvel

Do qual estaria eu a produzir minha fêmea

.

E os braços fortes e singelos

Que se abririam me convidando

Ao apelo dos teus flancos

Possuidores do ritmo certo

Das amazonas e das ninfetas

.

O sexo me tomaria décadas

Para que eu pudesse somente rascunhar

A divindade que se esconde

Entre tuas coxas

.

E descendo cada vez mais

Iria finalmente chegar aos seus pés

E delicadamente os faria

Da maneira como tu és

.

Completa afinal minha obra

Tal Pigmaleão eu ordenaria

Que a estátua do meu amor

Me dissesse apenas “Eu te amo”

.

Qual seria então o meu engano

Minha dor e meu desencanto

Ao entender que nenhum homem

É capaz de reproduzir a cria dos deuses

Lasciva, impura e delirante como um demônio

Bela, fascinante e inominável como um anjo

Para saciar seus prazeres

3 comentários:

I'm Nina, Marie, etc... disse...

A escultura está quase completa... Mas lembrei do Drummond e vi que ainda falta uma parte: a bunda!
:)

E agora José? disse...

Agora não falta mais. Espero que você goste.

sel disse...

olá vim aki para ler o jardineiro ae me perdi em parla...ahhhhhh....chuaaaaaaaaaa...que delicia,qta sensualidade,é de arrepiar..adorei..bem lembrado a Nina,a bunda dos poemas de Drummond...kkk(ih,quase falei a bunda de Drummond...kkkk)bjos!