sexta-feira, 18 de julho de 2014

CURRA


A minha língua abre a pele como navalha na carne que se abre como uma ferida, revelando o interior, músculos, nervos e sangue. Alma escorrendo, transbordando, saliva é veneno adentrando ao buraco aberto como o de um tiro à queima roupa que escorre e contamina o seu sistema, queima dentro da sua veia como ácido.

Cuspe que cai com a força de quem o cospe do terraço de um arranha-céu e te atinge no coração, te trespassa, te viola, te empala. Projétil que estilhaça a sua resistência, abre caminho através da sua armadura, verga a sua vontade, humilha o seu orgulho e te agrilhoa, ajoelhando-te. 

Você perde os sentidos, a visão, a fala e ao mesmo tempo se torna sensível como nunca, aflorando lugares que jamais você supôs existir, possuir, pensamentos, desejos, emoções - sujos, violentos, vis. Deliciosos. 

Sem força para resistir e tenaz para trair os seus ensinamentos, quebrando o tabu e caindo de boca como um bêbado que só depois que sente o chão, a lona contra o rosto, coloca as mãos a frente do corpo para se proteger.

Indefesa você se entrega não por não poder lutar, mas por não querer resistir. Vítima da síndrome de Estocolmo você espera nunca ser encontrada, nunca ser descoberta, renascer comigo e deixar sua vida para trás.

O cárcere é o seu lar, as algemas as mais caras joias que você jamais ostentou e as cicatrizes provas de amor. Você chafurda no chiqueiro e o ama, lavando sua alma com imundície o seu corpo se torna o templo da violência.

E então você anseia, baba como uma cadela com raiva, no cio, ansiosa, viciada, aguardando como o leproso pela cura, a próxima curra. 

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