domingo, 4 de julho de 2010

Seis Eunucos


O gosto de sangue entre os dentes era delicioso, a dor, uma sensação conhecida. Eram tantos vultos, homens animalescos reduzidos ao seu impulso mais primitivo. Ela, indefesa, abatida, foi rodeada e ferida por tantas flechas quanto São Sebastião pelos romanos. Eles a penetravam de tantas formas que a comparação a ajudava a suportar o insuportável. As amarras quando finalmente se saciaram estavam frouxas pelos movimentos frenéticos. Assim conseguiu alcançar uma faca e se soltar. Nua na cova dos leões como Daniel, com seis homens adormecidos ao seu redor, todos exaustos.
O sangue escorria por suas nádegas e descia pelas coxas. Os hematomas deformavam o outrora belo rosto. Carne viva. Um a um tocou vagarosamente e com carinho atou os nós delicadamente enquanto eles sonhavam. Um a um ela despertou. Eles ao perceberem que haviam sido mutilados, com o sangue jorrando forte de onde há pouco sua virilidade provara seu valor, gritavam em puro desespero e terror. Com uma paciência encantadora, suja de sangue e esperma, ela foi se banhar. Vestiu-se, pegou o dinheiro do resgate e desapareceu deixando seis eunucos para trás. Ela se tornara a mão esquerda de Deus.

2 comentários:

Caolho disse...

Achei muito boa a comparação com as flechas no santo. Conto breve mas de muita criatividade.

E agora José? disse...

Eu fiz esse conto a partir dessa ilustração do Michael Hussan. Eu adorei essa representação de São Sebastião mais sensual, andrógino e tentei encaixar uma comparação que dialogasse com o desenho. Que bom que você gostou amigo, quero ver se me dedico mais ao blog agora neste mês.