quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Primavera


O vento devagar lambe a pedra
e a molda, invisível, transformando
o bruto em belo

E assim, sem pressa, brinca com a água salgada
e cria ondas que podem engolir praias
e destruir castelos

Mais além, faz carinho no jardim
e pétala por pétala, à flor da pele
causa arrepio, causa medo, calafrio
depois murmura e cala, e por fim
quando parece que não vai acontecer mais nada
aprendemos que simplesmente
nascera um jardim em outro lugar

Quem sabe no deserto de pedras lambidas pelo ar
Ou em uma ilha que há de afundar no mar
O importante é saber fazer tudo florir
E aprender a amar

2 comentários:

I'm Nina, Marie, etc... disse...

"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."
[Cecília Meireles]

E agora José? disse...

A lembrança é eterna, o momento é eterno, a eternidade é um segundo. Cada primavera não se lembra da passada. Haverá rosas, mas elas não farão o teu perfume menos doce, nem tu as tornará menos belas.