segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Na Tortura Toda Carne Se Trai


Eu seria capaz de suportar os mais terríveis dos instrumentos de tortura, sessões de crueldade, ser aferroado e trancafiado na mais profunda e escura das catacumbas. Afinal, contra a opressão e a humilhação o orgulho transforma a dor do corpo em uma pérola na alma e calcifica a mágoa e o ultraje em uma arma de resistência.

Porém, a tentação, o doce sabor do fruto da árvore da Vida, isso é irresistível. Como já foi dito, é possível resistir a tudo, exceto às tentações. E das tentações, dos pecados da carne, nenhum é mais doce do que o beijo. Um veneno mortal, que mesmo assim procuramos e guerreamos por ele para podermos prová-lo, mesmo sabendo do mal que ele pode nos fazer. Nos enganamos que o provaremos em doses homeopáticas como um fino liquor servido só nas ocasiões mais solenes, entretanto nos embriagamos com beijos noites adentro como ébrios de vinho.

Ele, o beijo, é o começo, meio e o fim da dança, a inauguração do prazer, o convite ao banquete, o passaporte ao transe. Na tortura toda carne se trai, só é preciso conhecer as ferramentas corretas para tornar horror, sublime e vencer e conquistar qualquer coração. Para eliminar qualquer defesa, desfazer qualquer armadilha. Por algumas horas, por um segundo, por uma noite, pela eternidade.

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