segunda-feira, 17 de março de 2008

Mais um soneto


LÁZARO
.
Não consigo pensar em outra cova mais conveniente
Para me enterrar feito decadente pecadora serpente
Do que a greta de onde brota o rio do aniquilamento
Minha língua-víbora ardente a abrir caminho
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Minhas últimas palavras serão aterradores gemidos
Que ecoarão para sempre na sua garganta, golpe infinito
Onde saliva e dentes mastigam o último suspiro
E deitam no calor interior o fogo infernal e ígneo
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Meu túmulo é o teu corpo sobre o meu quente
Nas trevas me entrego a paz de repente
Jazigo de lençóis molhados e perenes
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Faz-se o milagre, silenciosamente
Eis que, a arder em desejo, subitamente
Ressuscito

3 comentários:

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Muito bonito, lindo mesmo... Fazer sonetos é difícil, mas parece fácil para você... Acho que andou lendo Bocage demais...
:)

sel disse...

O,Rodolfo,isto é de tua autoria...oh,que serpente mais faminta,desejo enrrustido,achei uma delicia,a imagem então,maravilhosa...bjos!!boa páscoa!!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Definitivamente, quero os teus gemidos, sussurros, gritos, uivos ecoando para sempre em minha garganta...
Quero te sentir morrendo e ressucitando em mim...